O 46º Festival de Inverno da UFMG, realizado entre os dias 18 e 26 de julho, diferentemente dos últimos anos, aconteceu no campus na Pampulha. A ideia central do evento era tornar o espaço da universidade um território de experiências sobre os nossos modos de vida em comum. Pensou-se, dessa forma, em transformar o campus em uma espécie de protótipo de cidade ideal, onde existissem espaços para as diferenças culturais, hortas coletivas, culinária comum, coleta seletiva e reciclagem, ônibus tarifa zero e bicicletas compartilhadas.

Para concretizar esta última ideia, foi formado um Grupo de Trabalho chamado GT Bicicletas Compartilhadas, do qual participaram diversos coletivos de ciclistas e cidadãos interessados no tema. A tarefa principal era viabilizar um sistema de compartilhamento de bicicletas dentro do campus, que funcionasse durante os dez dias do Festival. Como legado, era importante que as bicicletas tivessem uma destinação adequada ao final do evento e, para tanto, foi decidido que as bicis seriam doadas para jovens de ocupações urbanas de Belo Horizonte, porém, por falta de condições para manejar tal distribuição, elas acabaram sendo doadas somente para a ocupação Rosa Leão, localizada na região do Izidoro.

Para que o sistema pudesse existir, foi preciso, antes de o festival se iniciar, realizar e divulgar uma campanha de doação de bicicletas pelas redes sociais, a “Doe Bike”, que conseguiu arrecadar algumas magrelas. Além disso, foi possível, por meio de uma verba destinada ao GT, compra algumas bicicletas antigas dos Correios, que se encontravam, de forma geral, em péssimo estado de conservação. Adquiridas as bicicletas, que somaram 32 no total, o passo seguinte foi reformá-las, consertando peças básicas para a segurança da pedalada. Dessa forma, durante três dias, os participantes do GT se encontraram no Espaço Comum Luiz Estrela com suas ferramentas para dar vida às bicicletas que estavam, há anos, encostadas em garagens e galpões. O trabalho foi pesado, mas muito proveitoso, pois todos trocaram conhecimentos sobre consertos de bikes e conseguiram, dessa forma, recuperar a grande maioria delas. Quem sabia mais, ensinava os outros; quem não sabia nada, procurava aprender e ajudar da forma que podia. Foi um lindo trabalho coletivo.

Passada esta etapa, iniciou-se, no campinho da Escola de Veterinára da UFMG, a construção de paraciclos de bambu e MDF, além da identificação de todas as bicicletas com peças de lona marcadas com o stencil “bicicleta compartilhada”. Essas tarefas duraram por dois dias e os resultados foram incríveis! Osparaciclos ficaram super simples e funcionais, além de poderem servir, agora, como modelos para outras pessoas interessadas em montar tal estrutura com poucos recursos. Tudo estava pronto para o Festival começar e as pessoas pedalarem livremente pelo Campus.

Nos primeiros dias do evento, foi possível notar que a as bicicletas fizeram muito sucesso: por todos os lugares do campus via-se alguém passando com uma “compartilhada”. Infelizmente, logo no primeiro dia, devido à falta de cuidado de alguns usuários, algumas bikes já começaram a ter peças danificadas e furtadas, além de não ser respeitada a orientação de devolvê-las sempre em algum dos quatro paraciclos espalhados pelo campus. Devido a isso, as tarefas do GT durante a semana resumiram-se em dar manutenção às bicicletas. Algumas ficaram tão estragadas a ponto de terem de ser descartadas do sistema, o que foi muito triste, pois o planejamento era de que todas as bikes durassem durante todo o festival.

As ideias de pintura de ciclovias e realização de eventos, tais como a pedalada centro-campus, o Bike Polo, a Escola Bike Anjo e o Velódromo, não puderam acontecer por falta de tempo das pessoas que estavam envolvidos no GT, que acabaram se sobrecarregando com a tarefa de manutenção constante das bicicletas e paraciclos durante o Festival. Por outro lado, aconteceram outros dois eventos relacionados ao projeto que foram muito interessantes. O primeiro foi a realização de uma edição especial do programa Conexões, da Radio UFMG Educativa, sobre mobilidade urbana, no dia 21 de julho, na qual participaram integrantes da BH em Ciclo, do Tarifa Zero BH e do Coletivo Micropolis. As participantes conversaram sobre o tema e debateram a presença deste eixo no Festival, que se deu, principalmente, por meio do GT Bicicletas Compartilhadas e do GT Ônibus Grátis. No dia seguinte, 22 de julho, houve uma mesa redonda sobre o mesmo tema, no auditório da Reitoria, da qual participaram a BH em Ciclo, o Tarifa Zero, a jornalista Natália Garcia, do blog Cidades para Pessoas, e o Mister do Coletivo Basurama, de Madri.

O GT Bicicletas Compartilhadas foi uma experiência bastante enriquecedora para todos aqueles que puderam participar dessa atividade durante os dez dias em que aconteceu o 46º Festival de Inverno no campus da UFMG. Além do conhecimento que os participantes puderam adquirir sobre conserto de bikes e as experiências que puderam trocar entre si, a imagem do espaço do campus repleto de bicicletas compartilhadas como um bem comum permanecerá por muito tempo na memória de muitos. Durante os últimos dias, várias pessoas comentaram que seria uma ótima ideia se o sistema continuasse a existir após o término do Festival, pois ele facilita muito o deslocamento dentro do Campus e ainda oferece uma opção de lazer para horas livres. Esperamos que isso tenha sido apenas uma semente de algo maior que possa vir pela frente.

Foto: 46º Festival da Inverno da UFMG

Foto: 46º Festival da Inverno da UFMG