A (ausência de) políticas para a bicicleta em Belo Horizonte nos faz chorar e rir, de nervoso, nesse caso.
Hoje, a Serttel, administradora do sistema Bike BH, começou a implantar mais vagas nas estações do sistema (foto embaixo). É uma boa notícia, né? Poderia, mas se ela precisa ser contada num contexto mais amplo.
Há exatos trezentos e sessenta e cinco dias, também conhecidos como um ano, estávamos em uma reunião extraordinária do GT Pedala BH, no CRJ – Centro de Referência da Juventude, com foco exclusivo em discutir melhorias para o Bike BH – o sistema de bicicletas compartilhadas de Belo Horizonte.
Spoiler: nada havia avançado desde então, até hoje. Todo caso, convidamos você a ler o resto do texto e saber de mais essa inação da BHTRANS.
Nela, estavam integrantes da BH em Ciclo, do ITDP Brasil – que fez uma apresentação sobre um documento lançado pelo ITDP Brasil sobre bicicletas compartilhadas, da Serttel e BHTRANS.
Antes de avançarmos, é válido resgatar um trecho desse artigo sobre as bicicletas compartilhadas de BH:
Diversos manuais e especialistas em bicicletas compartilhadas afirmam que, para o sistema não frustrar as pessoas com estações cheias, se tenha de 2 a 2,5 vagas para cada bicicleta em cada estação. Se uma estação tiver, inicialmente, 10 bicicletas, ela teria que conter de 20 a 25 vagas. Em Belo Horizonte, optou-se pela proporção de 1,2 vaga para cada bicicleta por estação (cada estação tem 12 vagas e tem a previsão de ter 10 bicicletas.
Esse fator implica diretamente na possibilidade dos usuários deixarem as bicicletas em algumas estações que são mais procuradas. Na prática, é possível que você chegue para entregar a bicicleta em uma estação e ela esteja cheia. Nesse caso, você terá que procurar outra estação para entregar as bicicletas.
Existe uma logística feita pela Serttel para que as estações estejam sempre com número equilibrados de bicicletas (10 em cada), mas a ausência de vagas extras prejudica a capacidade do sistema de fluir sem interferência constante da empresa administradora.
Voltando: para dar mais subsídios ao debate, a BH em Ciclo levantou uma série de questões a serem respondidas pelos responsáveis (BHTRANS e Serttel) durante a reunião, sendo uma delas justamente sobre a ampliação das vagas das estações. Listamos abaixo alguma das respostas e promessas da Serttel e BHTRANS. No dia, as respostas e promessas foram bem recebidas, embora com dúvidas sobre a capacidade da Serttel e BHTRANS levarem adiante tudo o que foi elencado.
Promessas da SERTTEL feitas em 16 de agosto de 2017:
- aumentar 200 posições no total de estações, passando de 480 para 680;
- ter na rua, efetivamente, as 380 bicicletas previstas no contrato;
- instalar duas estações móveis, sendo uma na Savassi e outra na Praça JK;
- aumentar para 2h o tempo de uso no final de semana e feriados;
- lançar novo aplicativo (como em BSB), nas próximas semanas
- roteiros, dificuldades
- histórico de pagamentos
- histórico de viagens
- integrar com cartão BHBUS como meio de pagamento e também para liberação do sistema
- a pessoa precisaria ter um celular e cartão de crédito (para cadastro)
- a pessoa só conseguirá tirar uma bicicleta por BHBUS
- atender via Whatsapp
- implantar o Samba Power para não deixar as estações OFFLINE
- inserir gradualmente um modelo de bicicleta no sistema (com 2l a mais na cestinha
- divulgar amplamente o sistema via mídias sociais, por SMS, e-mail marketing e notificações no APP novo;
Promessas da BHTRANS feitas em 16 de agosto de 2017:
- conversar com TRANSFÁCIL para entender como fazer a conexão com BHBUS
- divulgar amplamente o sistema via mídias sociais, “ORELHAS” nas estações, via JORNAL DO ÔNIBUS e TV do Ônibus e mídia interna da BHTRANS;
AÇÕES DE DIVULGAÇÃO para o Dia Mundial Sem Carro de 2017 (22/9)
-
-
- algumas pedaladas, todos os dias, com empréstimos da bici share
- sendo de graça no dia 22 de setembro ou no mês todo
- pedalada com Prefeito
- coletiva de imprensa
- algumas pedaladas, todos os dias, com empréstimos da bici share
-
O que disse tudo aí foi feito tanto pela Serttel quanto pela BHTRANS? Nada, na prática, até hoje.
Você pode estar se perguntando: essa Serttel faz o que bem entender com o sistema, promete fundos e mundos, mas nada avança – ou avança com atraso de um ano. E aí?
Pois bem. O contrato do Bike BH foi assinado entre a BHTRANS e a Serttel e tem validade de cinco anos, vencendo em abril de 2019. No contrato, a BHTRANS é o órgão municipal responsável pelo cumprimento do que foi acordado, mas ela NUNCA levou adiante a possibilidade de cobrar juridicamente da Serttel os descumprimentos contratuais. As sanções variam desde aplicação de multas até o limite do rompimento do contrato, caso os descumprimentos sejam recorrentes. E eles foram. E continuam sendo.
Além de tanto descumprimento sem sanção, tem outro problema. O contrato entre Serttel e BHTRANS prevê o pagamento de aproximadamente R$ 390.000,00 da primeira à segunda, para que essa pudesse fazer a gestão do sistema – monitorar, avaliar, etc. A BHTRANS foi perguntada inúmeras vezes, durante o GT Pedala BH, onde foi parar o recurso. A resposta é sempre: não sabemos. Nenhum servidor da BHTRANS precisaria realmente saber a resposta, mas a instituição precisa. E não deu, até fazermos a indagação via Lei de Acesso à Informação. A resposta, na íntegra, foi:
Ref.: Manifestacao no 200586.
Informamos a V. Sa que, de acordo com a BHTRANS, O valor recebido ate 31/01/2018 da Sertell Ltda. desde o inicio do contrato 2285/14 e de R$ 328.403,95. Em relacao aos itens 2) e 3), a Gerencia Planejamento e Mobilidade (GEMOB) informou que todos os valores arrecadados sao depositados na conta arrecadacao da BHTRANS e sao gastos com acoes para a melhoria da Mobilidade Urbana em Belo Horizonte, inclusive na implantacao e/ou manutencao das rotas cicloviarias na cidade, quer no tocante a infraestrutura viaria quer no tocante a sinalizacao, bem como no planejamento de acoes pertinentes a mobilidade ativa.
Curioso é que na reunião do dia 16 de agosto de 2017, a Serttel informou oralmente aos presentes que todo o montante, R$ 388.560, relativo a 60 parcelas mensais de R$ 6.476,00, já tinha sido repassado à BHTRANS. Em inúmeros momentos, a BH em Ciclo sugeriu que esse recurso fosse usado para implantação de ciclovias e/ou ciclovias, para promoção da bicicleta por meio de ações educativas, mas não sabemos onde esses R$ 328 mil forem efetivamente gastos. Parece que nem mesmo a BHTRANS sabe.
Fica aqui, mais uma vez, o descontentamento da BH em Ciclo com a ausência de uma política para bicicleta que seja coerente, transparente e eficiente. E por que não apaixonante e verdadeira?
Ainda assim, com tanto jogo contrário, #BHPedala. Para que o sistema de bicicletas compartilhadas não seja um instrumento de desmandos e de imagem negativa para BH, #EuQueroPlanBici!
Se quiser saber mais sobre, acesse AQUI.