A bicicleta como transporte – O ciclista como agente do trânsito
Incluir o conhecimento sobre a circulação da bicicleta nas cidades e a relação condutor e ciclista nos treinamentos para os motoristas profissionais (de ônibus, taxi, escolar e outros) é um desejo comum entre ciclistas de grande parte das cidades do Brasil.
Em Belo Horizonte não é diferente. Sempre se vê na internet algum ciclista ou adepto à bicicleta questionando sobre como é feito o treinamento dos motoristas profissionais. Ou, ainda, a razão destes motoristas, geralmente, não respeitarem o direito do ciclista trafegar pelas ruas da cidade, na ausência de vias exclusivas para bicicletas (ciclovias ou ciclofaixas).
Na capital mineira, há uma lacuna no conteúdo das apostilas usadas no treinamento dos motoristas profissionais que entram no sistema ou os que estão em atualização (reciclagem), quando se trata de deveres e direitos dos ciclistas e dos motoristas sobre quem utiliza a bicicleta.. Além, claro, de uma abordagem que mostre aos condutores profissionais como lidar com ciclistas em diversas situações que podem acontecer no trânsito.
Os cursos especializados para condutores profissionais de veículos têm por finalidade aperfeiçoar, instruir, qualificar e atualizar condutores, habilitando-os à condução de veículos de transporte coletivo de passageiros, transporte escolar e outros.
A BH em Ciclo ofereceu à BHTrans, que tem parceria com o SEST/SENAT, a inclusão de conteúdos com foco em bicicletas nos cursos de formação e reciclagem de motoristas profissionais da cidade (taxi, transportador escolar e suplementar), se dispondo a elaborar o conteúdo para ser adicionado na apostila e a ministrar aulas com a temática. O SEST/SENAT aceitou a proposição da apostila e preferiu que o curso fosse oferecido a todos os instrutores que treinam os motoristas profissionais, de forma a multiplicar esse conhecimento. Tendo ciência que a atual dinâmica do treinamento destes motoristas não contempla suficientemente o uso da bicicleta e a relação com o ciclista, o objetivo deste curso era capacitar e ampliar o conhecimento dos instrutores que treinam os motoristas profissionais sobre da figura do ciclista no trânsito e da circulação das bicicletas na cidade.
Com o sinal verde para a bicicleta, a equipe da BH em Ciclo construiu a apostila e o curso “A bicicleta como transporte – O ciclista como agente do trânsito”, baseado na Resolução 168, de 14 de dezembro de 2004, que “Estabelece Normas e Procedimentos para a formação de condutores de veículos automotores e elétricos, a realização dos exames, a expedição de documentos de habilitação, os cursos de formação, especializados, de reciclagem e dá outras providências”.
No dia 26 de abril, sábado, das 8h às 12h, foi oferecido o primeiro curso para cerca de 25 instrutores que treinam os novos motoristas profissionais que entram no sistema e os que estão se atualizando (em reciclagem). O curso do SEST/SENAT é composto de cinco módulos, com quatro deles definidos na Resolução 168 e outro oferecido pela BHTRrans, sobre a regulamentação local. O conteúdo da apresentação da BH em Ciclo foi transversal e considerou todos os quatro módulos originais.
Módulo I – Legislação de Trânsito: Consistiu na apresentação dos principais artigos que dizem respeito à circulação das bicicletas na cidade e de como o motorista tem que se comportar quando se aproxima de um ciclista.
Módulo II – Direção Defensiva: Foi apresentado um resumo sobre como lidar com os ciclistas nas ruas de forma preventiva e respeitosa.
Módulo III – Noções de Primeiros Socorros, Respeito ao Meio Ambiente e Convívio Social: Neste módulo, apresentamos os benefícios que a bicicleta pode gerar para quem optar por usá-la e para a qualidade de vida nas cidades. Outro aspecto abordado foi a importância de se pensar nas recomendações da legislação de trânsito como um Código de Compartilhamento da Via de forma amistosa e mais correta para todos, para além de multas e infrações.
Módulo IV – Relacionamento Interpessoal: O foco deste módulo foi mostrar como os instrutores devem passar aos motoristas a mensagem de que a convivência harmoniosa entre motoristas e demais agentes nas ruas da cidade é parte de um processo que diz respeito à educação para mobilidade e respeito à vida.
A metodologia utilizada
Após a BHTrans dar um panorama geral sobre o que a prefeitura vem fazendo no que tange ao uso da bicicleta, a BH em Ciclo aplicou este questionário, que não teve função avaliativa, aos instrutores. O resultado das respostas foi positivo e está sendo sistematizado para orientar novas turmas.
Em seguida, foi iniciada a a apresentação que incluiu slides e vídeos. Durante todo o processo, os instrutores se mostraram entusiasmados ao que lhes era apresentado, fosse por vídeo, fotos ou textos.
Após o intervalo, os instrutores foram divididos em quatro grupos (um para cada módulo). A dinâmica consistiu em fazer com que eles montassem uma proposta de aula para mostrar como passariam aos motoristas profissionais o conteúdo aprendido durante o curso daquele dia.
O resultado desta dinâmica foi surpreendente, mostrando a criatividade da turma e o grande potencial de apresentar o tema de diversas formas, tornando-o acessível aos motoristas. É extremamente positivo que esse tema seja incorporado naturalmente às aulas cotidianas destes instrutores nos diversos módulos do curso.Ao final, os instrutores elogiaram o conteúdo do curso e a metodologia utilizada. O destaque, segundo eles, foi para a vontade da Associação de fazer com que o respeito ao ciclista fosse compreendido pelos motoristas, profissionais ou não, como uma forma de garantir o direito de quem usa a bicicleta como modo de transporte à cidade, direito de ir e vir, direito à vida.
Quando a BH em Ciclo propôs esse curso à BHTrans, tínhamos em mente alcançar os seguintes objetivos:
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Capacitar os instrutores para serem multiplicadores de boas práticas sobre a educação para a mobilidade urbana, especialmente, por bicicleta;
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Aumentar a atuação da BHTrans em questões práticas de educação para a mobilidade urbana por bicicletas;
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Fomentar a cultura da bicicleta na cidade;
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Reforçar a participação de coletivos de ciclistas nas políticas de promoção da bicicleta;
O conteúdo passado pela BH em Ciclo aos instrutores tem projeção de alcance de aproximadamente 14.000 motoristas profissionais em cinco anos (período de atualização dos motoristas). Ou seja, mais de 230 motoristas por mês. Ademais, esta ação reforçou a participação de coletivos de ciclistas nas políticas de promoção da bicicleta, tem potencial de contribuir na redução de acidentes de trânsito envolvendo ciclistas e motoristas profissionais e, também, na diminuição de infrações relativas ao ciclista e ao uso da bicicleta na cidade.
Com intuito de otimizar o curso dado, a BH em Ciclo acompanhará alguns dos treinamentos dados por estes instrutores aos motoristas profissionais. Desta forma, a Associação terá condições de compreender o que eles aprenderam durante o curso e qual abordagem estão utilizando com os condutores profissionais sobre o uso da bicicleta na cidade e sobre o ciclista. O acompanhamento também permitirá à BH em Ciclo uma avaliação sobre a metodologia, o conteúdo, o discurso e outros detalhes do processo.
Esse foi só o primeiro passo. Está sendo articulada novas versões deste curso e treinamento de motoristas de ônibus e de motoristas comuns (não profissionais), mas ainda sem prazo para acontecerem.
A equipe da BH em Ciclo está à disposição para tirar dúvidas sobre o processo e receber críticas e sugestões para as novas turmas. Entre em contato conosco pelo e-mail bhemciclo@gmail.com.