22 de setembro é o Dia Mundial sem Carro. Nesse dia, movimentos, coletivos e pessoas do mundo inteiro discutem e propõem atividades capazes de renovar as políticas de mobilidade urbana que, hoje priorizam o uso de carros.

Belo Horizonte é um exemplo de cidade que segue um modelo rodoviarista. Todos os dias vemos milhões de reais sendo gastos com alargamento de vias, construção de túneis e viadutos, isenção de imposto para empresas automotivas e pouco se investe nos modos para incentivar o pedestre, o ciclista e o sistema de transporte público. E o trânsito? Só piora. Mas nós podemos fazer uma escolha diferente.

Trazemos aqui o relato de 4 pessoas que escolheram se deslocar pela cidade de outro jeito. Leia e se inspire!

Foto: Rafael Neddermeyer/ Fotos Públicas

_Carlos Edward: Eu uso o transporte individual motorizado desde os 17 anos, primeiro motocicleta e depois carro. Já pratiquei esporte motorizado e já fui apaixonado por automobilismo, um carrocrata completo. Há seis anos mudei para perto do trabalho e da escola das crianças e isso abriu um novo horizonte de possibilidades. Hoje vejo o carro como um meio de transporte apenas e muito pernicioso, pras pessoas e pras cidades. Atualmente faço 100% dos meus deslocamentos para o trabalho a pé. Para lazer e outros compromissos vou de bicicleta. Só uso o carro para transportar alguém ou muita carga e quando saímos em grupo em casa.

_Débora Vieira: Eu nunca quis ter carro. Nunca me pareceu razoável gastar dinheiro com algo que demanda dinheiro, com gasolina, manutenção, seguro, impostos, e que ocupa tanto espaço, nas ruas, nos estacionamentos, nas garagens. Também me parece uma responsabilidade muito grande. O carro é uma espécie de arma… distraída que sou, não poderia dar muito certo. Por isso sempre andei de ônibus e as vezes optava pelo táxi, pela simples razão de que, na ponta do lápis, se eu fizesse todos os meus deslocamentos diários de táxi (o que nunca aconteceu), ainda assim, no final do mês, sairia mais barato que o carro. Quando escolhi uma escola para minha filha que ficava longe de casa, “decidi” ter um carro. Felizmente, a decisão não passou da segunda página – nem carteira consegui tirar – e optei por remanejar minha vida de forma a ficar mais próxima dos lugares onde tenho que ir. Um privilégio, bem sei. E como a maioria da população não pode contar com esse privilégio, e talvez amanhã nem eu mesma possa contar, bora tentar lutar por um transporte coletivo mais digno, mas eficiente, mais acessível. Chega de perder a vida no trânsito!

_Diego Pessoa: O carro sempre esteve presente na minha vida. Da infância até os 18 anos, quando comecei a dirigir. Um dia, em um momento de reflexão, identifiquei no carro uma grande fonte de frustração e stress, pois trabalho a 20 km da minha casa e o “trânsito” é pesado. Ainda, em um contexto político em que me perguntava sobre o rumo da nossa sociedade e das nossas cidades, resolvi experimentar a bicicleta aliada ao metrô. Esse simples fato revolucionou minha vida. As horas de stress em congestionamento se tornaram em momentos prazerosos em cima da bicicleta, e momentos de leitura e estudo dentro do metrô. A percepção sobre a cidade mudou e detalhes que sempre passavam despercebidos hoje não passam mais. Sem contar na contribuição para minha saúde, para meu bolso e para um planeta mais sustentável. O Dia Mundial sem Carro é uma ótima oportunidade para refletir como nos locomovemos pela cidade. Afinal, se locomover não precisa ser estressante!

_Amanda Corradi: Nunca tive automóvel, tampouco minha família. Cresci fazendo minhas atividades diárias a pé e de ônibus, predominantemente. No início da vida adulta, com a rotina de estudos e trabalho, os deslocamentos diários interferiam bastante no meu rendimento, já que eu residia na Região Metropolitana e fazia minhas atividades na capital. Perdia horas preciosas, todos os dias. Ainda assim, eu olhava ao meu redor e via que de nada adiantaria ter um carro, pois para todo lado os congestionamentos eram enormes. Nessa época tive a grata experiência de aprender a andar de bicicleta (com meus 21 anos, especificamente) e a conexão que estabeleci com as pessoas a partir daí me fez perceber que a resolução para os meus problemas individuais (e também coletivos) não passaria pelo transporte individual motorizado. Após colocar no papel os gastos com transporte coletivo, decidimos morar mais próximo as atividades de rotina e adotar com maior frequência os modos ativos (bicicleta e caminhada), além do ônibus em algumas situações. A utilização do taxi em ocasiões específicas também é feita.