A BH em Ciclo, ao tomar conhecimento do texto escrito pela jornalista Cris Guerra, leu, releu e tentou digerir o conteúdo preconceituoso do mesmo. O ciclista Augusto Schmidt escreveu sua resposta ao texto e a BH em Ciclo, por concordar com cada letra do texto, publica, abaixo, o texto.
Prezada Cris Guerra,
Em resposta à crônica Bicicletas no horizonte, publicada na revista Veja BH, em 15/12/2012, lamento, sinceramente, que, em pleno século XXI, ainda haja pessoas que não reconheçam a bicicleta como meio de transporte, mas apenas como um esporte.
Em 2002, ano da última pesquisa de Origem-Destino, já eram feitos mais de 67000 deslocamentos diários com a bicicleta em Belo Horizonte. Esse número provavelmente tem crescido muito, pela quantidade cada vez maior de ciclistas que se vê na rua.
Não entrarei no mérito das últimas ciclofaixas que estão sendo implantadas na região do Lourdes, que também não agradam aos ciclistas em função das falhas de planejamento e segurança, originárias da má formação do programa Pedala BH.
Quanto ao relevo, ilude-se quem pensa que a topografia de Belo Horizonte é tão desfavorável assim, a maioria dos nossos principais corredores viários de ligação estão em leitos de rio e são completamente planos! (Av. dos Andradas, Av. Tereza Cristina, Av. Bernardo Vasconcelos, Av. Prudente de Morais, Av. Barão Homem de Melo, Av. Silva Lobo, Av. Silviano Brandão, só para citar algumas). Cidades como São Francisco (EUA) e Bogotá (Colômbia), com relevo parecido com a nossa cidade, chegaram a uma participação significativa da bicicleta entre os modais de transporte. A incrível e simples tecnologia das marchas facilita muito as subidas, e há ainda a opção das bicicletas elétricas, cada vez mais acessíveis. Não acredito que a bicicleta seja a única solução para a mobilidade urbana, mas, é, sim, parte dela! A intermodalidade, que começa a ser vislumbrada nos novos projetos de transporte público, passa a permitir que se faça parte do trajeto de bicicleta e o restante de ônibus, BRT ou metrô. Por essas e outras, Belo Horizonte tem, sim, plenas condições de se tornar uma cidade mais amigável à bicicleta, e alcançar à meta estipulada pela BHTrans de abarcar 6% dos deslocamentos diários feitos de “magrela” até 2020.
E, lhe digo mais, não são as bicicletas que estão modernas e ninguém as vê, os motoristas é que ainda não se acostumaram a enxergar as bicicletas como parte do trânsito, assim como o poder público. Eles criam, inconscientemente, um bloqueio mental e simplesmente não as vêem! Por isso, hoje, os acidentes com ciclistas estão entre os cinco atendimentos mais frequentes no Hospital de Pronto-Socorro (HPS) João XXIII. Só em 2012 foram 1.229 pessoas atendidas por esse motivo. Onde estão esses “cidadãos dispostos, atléticos e ecológicos” que você não vê, mas que sofrem tanto com a violência no trânsito?
O que me incomodou profundamente no seu texto foi a ignorância, o desprezo e a ironia que você empregou ao se referir às bicicletas como transporte nas cidades. Acima de tudo, o que queremos é RESPEITO! Respeito aos nossos corpos nada atléticos, respeito ao nosso modelo não não lhe tratá risco de uma doença respiratória, cardíaca ou estresse, respeito às nossas horas bem aproveitadas fora do congestionamento (que não causamos), respeito à nossa opção, respeito à nossa vida.
É por causa de pessoas com visão como a sua que o ciclista urbano ainda é tão marginalizado e violentado. Se me permite lhe dar um conselho, saia detrás do para-brisa, se livre da bolha do seu carro, e experimente se locomover pelo trânsito apenas com o seu próprio corpo e com uma máquina simples e fantástica: a bicicleta. Experimente sentir o vento no rosto e ter um contato mais direto com a cidade em que você vive, poder parar a qualquer momento para sentir um cheiro de uma flor, fotografar uma árvore ou parar para conversar com um amigo. Os modos não motorizados de transporte (com destaque para o modo a pé e bicicleta) permitem nos reconectar com a cidade, a qual você tanto critica, e adquirir uma nova visão do espaço público, que passa a se tornar o grande local de encontro, e não o simples espaço de passagem de motoristas furiosos e impacientes. Na teoria é fantástico, na prática é inexplicável!
Atenciosamente,
Augusto Diniz
essa ai foi a que eu vi hoje no trânsito, pelejando com o calor dentro do carro, com o transito, com o ócio, … ?
Ah tá, deve ter ar condicionado, retiro o calor, deixo o trânsito e a janela fechada!
Tadinha. E eu ali, indo pro trabalho, tomando uma brisa em cima da bike!