Participantes do DI 2014

Participantes do DI 2014

A intenção do Desafio Intermodal não é simplesmente medir qual é o modo mais rápido de se locomover pela cidade. O objetivo é comparar as características de cada modal, proporcionando às pessoas a oportunidade de pensar “E se eu experimentasse ir de … ?”. As escolhas que fazemos no dia a dia determinam se vamos chegar mais rápido, despender mais dinheiro, poluir menos, gastar mais calorias, enfim: todos esses elementos compõem a qualidade de vida que podemos ou escolhemos ter no nosso deslocamento.

O Desafio Intermodal 2014 reuniu 12 maneiras, num percurso entre a Praça Raul Soares e a Escola de Belas Artes, entrada do Campus da UFMG, numa distância e horário em que milhões de pessoas em Belo Horizonte estão se movendo: do trabalho para casa, do trabalho para a escola, de casa para a aula… Cada participante era livre para escolher o seu trajeto, apenas o destino era comum. No caso, também se testou o uso da bicicleta na Avenida Antônio Carlos, na pista mista e na compartilhando a pista do BRT com os ônibus.

A Avenida é um importante corredor que liga o Centro à Zona Norte e a Pampulha. Ao longo dela há algumas escolas e faculdades, com unidades do SESI, UNI-BH, Facisa, Anhaguera e o campus da UFMG, com milhares de pessoas circulando diariamente. Apesar da falta de ciclovias, há várias pessoas que a utilizam pedalando para seus destinos. Se houvesse uma ciclovia, e também bicicletários nas estações do BRT, haveria oportunidade para que mais pessoas optassem pela bicicleta, ou quem a utilizasse para cumprir o percurso entre bairros próximos e pegar o BRT na avenida.

Resultados iniciais:

Desafio Intermodal 2014

O relatório completo ainda será finalizado, mas os resultados iniciais demonstram padrões semelhantes aos encontrados nos anos anteriores, quando o trajeto era entre a região central e o campus da PUC Coração Eucarístico.

A bicicleta fez bonito! Pela primeira vez, ciclistas e um patinador chegaram antes do Motociclista! 

Seguem algumas observações, que refletem como algumas peculiaridades e escolhas influem no resultado de um comparativo como este.

  • O motociclista escolheu não utilizar a Avenida Antônio Carlos, foi pelo eixo Pedro II e Catalão, com cerca de 11km de percurso, levando ainda algum tempo para atravessar o campus. Se poderia ter chegado mais rápido, a moto não escapa de emitir mais poluentes que um ônibus.
  • Pela primeira vez um ciclista comum chegou antes do ciclista atleta. A curiosidade tem explicação. O ciclista atleta percorreu pelo menos 3km a mais, devido às escolhas que fez para sair da região central, e por não ter atravessado a Antônio Carlos empurrando pela faixa de pedestre no semáforo em frente à UFMG, só nesta ação, percorreu 1.5km a mais. Outro ponto interessante é o gasto de calorias pela atividade física, onde o ciclista atleta, por ser mais leve (cerca de 30kg de diferença) gasta menos calorias.
  • Como a pista mista possui uma enorme quantidade de veículos, além de várias conversões à direita, alguns ciclistas tem escolhido utilizar a pista do BRT para se deslocar na Antônio Carlos. A explicação é que há poucos ônibus circulando e há duas faixas de rolamento, sendo predominantemente utilizada a faixa da esquerda pelos ônibus e a faixa da direita fica livre na maior parte do tempo. O tempo gasto foi pouco maior que pela pista mista, pois o ciclista pode se deslocar com mais tranquilidade sem necessidade de acelerar.
  • Se em 2013 o patinador levou 1h para percorrer distância semelhante, neste ano gastou muito menos tempo. Ele tinha mais conhecimento sobre o trajeto (ano passado era outro) e as descidas e piso mais regular da Antônio Carlos também lhe deram maior velocidade em vários trechos.
  • Embora estivesse previsto apenas 1 carro no Desafio, o repórter da CBN que fez a cobertura aderiu ao comparativo, e as escolhas que os dois motoristas fizeram para sair do centro e atravessar o complexo da Lagoinha proporcionaram uma diferença de 5min. Como a região da Escola de Belas Artes é menos demandada por estacionamento na UFMG, eles não tiveram maiores dificuldades na chegada. Se o destino fosse mais próximo à Reitoria, Escola de Engenharia e ICEx, certamente teriam perdido bastante tempo circulando atrás de uma vaga. Mesmo assim, um dos motoristas chegou após quem foi de BRT e do corredor a pé. Isso demonstra como a enorme quantidade de carros faz com que a perda de tempo no trânsito aumente para toda a população.
  • O resultado do BRT poderia ter sido melhor, houve demora para embarcar e algum tempo na saída do centro para a pista do BRT na Antônio Carlos, devido a trechos compartilhados com o trânsito comum. O BRT trafega muito rápido onde há faixas segregadas, fora da área central. Dentro do perímetro da Contorno, as faixas exclusivas ainda não são contínuas e são semi-compartilhadas com o tráfego misto, com muitas possibilidades de conversão e cruzamentos.
  • O resultado do BRT poderia ter sido pior que o do ônibus comum! A participante relatou que perdeu um ônibus (5102) e aguardou 22min até que passasse outro. Parte do caminho, cerca de 2km na Avenida Dom Pedro II, possui pista exclusiva para ônibus, implantada a menos de 3 meses. Somente este trecho já conferiu maior velocidade ao transporte coletivo, com dezenas de linhas que passam por ali em direção a bairros da zona Noroeste e Pampulha.

A falta de ciclovias na Antônio Carlos e de mais passarelas que façam a transposição do Complexo da Lagoinha, tornam a região uma “fronteira murada” entre o Centro e bairros como Carlos Prates, Lagoinha, Concórdia, Colégio Batista. Pedestres possuem poucas passarelas, com pouca iluminação e conectividade com os bairros. Ciclistas tem 2 opções: enfrentar os viadutos onde passam carros acima dos 60km/h ou inventar alternativas. Esta foi a missão do ciclista que seguiu por vias calmas. Mesclando passarela, um parque pouco conhecido sobre o túnel da Lagoinha e seguindo por uma rua paralela à Antônio Carlos, conseguiu cumprir mais da metade do trajeto sem passar pela avenida.

Conclusões Iniciais:

Neste ano, pela primeira vez não tivemos o metrô no Desafio, mas não desconsideramos sua importância como meio de transporte para a cidade. A mudança foi definida para testar o BRT (ainda em fase de adaptação) e para comprovar a necessidade de ciclovias nas grandes avenidas que ligam regiões de Belo Horizonte. A ciclovia da Avenida Antônio Carlos é reivindicada, no mínimo, desde 2009 e terá fundamental importância para estudantes, trabalhadores e também quem quer praticar exercícios, como ligação de vários bairros entre o Centro e a Pampulha.Uma possibilidade imediata, antes da construção de uma ciclovia, é que a PBH permita o compartilhamento da pista do BRT entre ciclistas e ônibus, treinando os motoristas e sinalizando a via. O leque de opções de transporte e a possibilidade de integrá-los (ou intermodalidade) é fundamental para que a mobilidade urbana atinja níveis satisfatórios de qualidade.

O relatório será feito e encaminhado a técnicos da BHtrans.

Cobertura na imprensa:

Rádio CBN

Rádio UFMG