Confiança. Transparência. Disposição.
A BH em Ciclo sempre acreditou, e ainda acredita, que políticas públicas só podem ser realmente efetivas se levarem adiante esses três princípios, além de necessariamente serem planejadas, executadas e revisadas com ampla participação popular, conforme preconizam nossas principais legislações.
Em 2012, solicitamos e criamos, em conjunto com a BHTRANS, um espaço de pensamento, implantação e análise das políticas públicas ligadas à mobilidade por bicicleta em Belo Horizonte: o GT Pedala BH. O GT é um Grupo de Trabalho aberto, coletivo e compartilhado, do qual participam técnicos da BHTRANS e outros órgãos da Prefeitura, pessoas interessadas nas políticas públicas voltadas a esse modo de transporte na cidade e também a BH em Ciclo e seus associados e associadas. A iniciativa foi a primeira do Brasil e gerou inúmeras trocas com outras cidades, que queriam aprender conosco esse profícuo caminho para implantação de políticas públicas ligadas à ciclomobilidade.
Durante alguns anos, a partir de janeiro de 2013, o GT se reuniu mensalmente e em eventuais reuniões extraordinárias. A BH em Ciclo participou dele desde a sua primeira edição, divulgando as reuniões, redigindo e disponibilizando publicamente todas as atas e fazendo o que mais for necessário para o bom funcionamento desse espaço. Nós também valorizamos o GT por onde andamos e pedalamos – de BH à Holanda, de Contagem à França, de Manaus à Cidade do México, por entendermos que ele tinha – e tem – potencial de contribuir para que Belo Horizonte se transforme numa cidade convidativa às pessoas que pedalam e querem pedalar. Ou seja, numa cidade efetivamente ciclável.
Entretanto, o cenário entre 2016 e 2020 não foi positivo, com praticamente nenhuma ação por parte da Prefeitura de Belo Horizonte para promover o uso da bicicleta na cidade. Em 28 de agosto de 2018, diante desse contexto, a BH em Ciclo resolveu se retirar do GT Pedala BH, como uma forma de não mais legitimar as (in)ações da Prefeitura de Belo Horizonte. Esse cenário negativo se estendeu entre 2018 e 2021. Para nossa tristeza, as promessas e os acordos foram solenemente deixados de lado. E, apesar da nossa insistência, pouco ou quase nada do nosso querido PlanBici (Plano de Mobilidade por Bicicleta de BH) foi executado nesses quase quatro anos de existência, apesar do compromisso e aprovação do prefeito.
Executado, o PlanBici, além de aumentar o percentual de pessoas pedalando de 0,4% para 2%, teria o potencial de reduzir os congestionamentos da cidade, as emissões de gases de efeito estufa, contribuir para a melhoria da qualidade do ar na cidade, reduzir taxas de obesidade e de sedentarismo, promover a inclusão social e o direito à cidade de milhares de belo-horizontinos e belo-horizontinas.
Pelos motivos elencados acima, após meses de discussões internas à Associação, comunicamos à sociedade nosso afastamento do GT Pedala BH de forma temporária, condicionando o nosso retorno à uma agenda mínima para a mobilidade por bicicleta na cidade. Entendemos que o cumprimento dessa agenda mínima e simbólica por parte da Prefeitura seria uma demonstração do reconhecimento de que a mobilidade por bicicleta é uma ferramenta importantíssima na construção de cidades mais humanas, sustentáveis, democráticas e justas. Não aconteceu.
O afastamento foi temporário e condicional, uma vez que a BH em Ciclo acreditava que somente por meio do intercâmbio, do diálogo e da colaboração entre sociedade civil e Prefeitura é que conseguiremos avançar de fato em políticas públicas de mobilidade urbana que sejam inclusivas e que promovam uma cidade mais sustentável, saudável e justa.
Ficamos afastadas(os) do GT por três anos, desde o dia 29 de agosto de 2018. De lá para cá, o GT se reuniu algumas – poucas – vezes e pouco se avançou na agenda da bicicleta na cidade, até a pandemia chegar. Fizemos diversas ações nesses anos, sem estarmos ligadas ao GT, sempre acreditando no enorme potencial de BH se transformar numa cidade convidativa às e aos ciclistas.
Com o advento da pandemia, a necessidade de distanciamento entre pessoas, nossa luta continuou, sabendo que a bicicleta é um modo de transporte que contribuiu para os deslocamentos das pessoas serem minimamente seguros, no que diz respeito à COVID-19. Provocamos a BHTRANS para implantar novas ciclovias e ciclofaixas – emergenciais – na cidade, por texto, por documentário. Tivemos resposta. Alguns quilômetros de ciclofaixas emergenciais foram instaladas, com nosso apoio. A Prefeitura ganhou prêmio por isso. Reativamos o diálogo com a Prefeitura, ao longo desse período pandêmico. Vimos, em 2021, a BHTRANS passar por transformações, desde a mudança de Presidente até o Projeto de Lei que prevê sua extinção.
Depois de muito diálogo interno, a BH em Ciclo resolveu, então, voltar ao GT Pedala BH. Esperamos, e torcemos – muito – para que mudanças e sinalizações efetivas ocorram e nos façam recuperar a confiança de que existe disposição para que as ações para bicicleta fossem executadas de forma efetiva e transparente pela BHTRANS – ou o que vier, caso a empresa de fato seja extinta.
Solicitamos, então, reunião com o Presidente da BHTRANS, Sr. Diogo Prosdocimi para tratarmos do assunto.
BH em Ciclo – Associação das e dos Ciclistas Urbanos de Belo Horizonte
27 de agosto de 2021